A literatura brasileira é repleta de obras-primas que transcendem o tempo, e Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, é uma delas. Publicado em 1956, o romance é considerado um dos maiores legados da prosa nacional, mergulhando no sertão mineiro com uma linguagem única e uma narrativa filosófica profunda. Agora, décadas depois, um novo projeto cinematográfico promete revisitar esse clássico de uma forma inesperada: inspirado não apenas no livro original, mas em um blog contemporâneo que reinterpreta a jornada de Riobaldo e Diadorim.
A Gênese do Projeto
O filme Grande Sertão surge de uma colaboração entre o diretor mineiro André Novais Oliveira e o roteirista paulista Carlos Mendonça. A ideia nasceu quando Mendonça, fã declarado da obra de Guimarães Rosa, começou a publicar em seu blog pessoal uma releitura moderna da trama, transpondo os personagens e conflitos para o cenário urbano do século XXI. As postagens, que misturavam trechos do livro original com reflexões sobre solidão, identidade e violência nas grandes cidades, viralizaram e chamaram a atenção de Oliveira.
“O blog não era uma adaptação literal, mas uma conversa com o texto do Rosa”, explica Mendonça. “Quis trazer aquele universo de jagunços e veredas para o contexto de jovens periféricos, onde as lutas por poder e sobrevivência ainda são tão reais quanto no sertão dos anos 1950.”
Da Tela para as Telas
A transposição do blog para o cinema não foi simples. O desafio era manter a essência da obra de Rosa enquanto explorava uma linguagem visual e narrativa atual. O filme opta por uma estrutura não linear, alternando entre cenas que remetem ao sertão tradicional e sequências urbanas, onde Riobaldo é um ex-militante de facção em busca de redenção, e Diadorim, uma figura enigmática cujo passado é revelado aos poucos.
A fotografia, assinada por Pedro Sotero, brinca com contrastes: tons quentes e áridos para as cenas no sertão, e cores frias e neon para os ambientes citadinos. A trilha sonora, composta por Marco Dutra, mescla instrumentos regionais, como a viola caipira, com batidas eletrônicas, reforçando o diálogo entre o clássico e o contemporâneo.
O Elenco e as Interpretações
No papel de Riobaldo, o ator baiano João Pedro Zappa traz uma intensidade crua, capturando a dualidade do personagem — sua brutalidade e sua busca por sentido. Já Diadorim é interpretado pela estreante Larissa Luz, cuja atuação sutíl e misteriosa promete ser uma das grandes surpresas do filme.
“O que mais me atraiu foi a ambiguidade da relação entre os dois”, comenta Zappa. “O blog e o roteiro não fugiram da complexidade do amor e da lealdade que Guimarães Rosa escreveu, mas deram uma nova roupagem, mais aberta às interpretações do público.”
Recepção e Expectativas
Ainda sem data de estreia confirmada, Grande Sertão já gera debates. Puristas da obra de Rosa questionam a liberdade criativa da adaptação, enquanto críticos mais jovens celebram a ousadia.
“Arte é feita para ser revisitada”, defende Oliveira. “Guimarães Rosa não queria um museu; ele queria que sua obra pulsasse. E é isso que tentamos fazer: manter o coração do Grande Sertão batendo em um novo corpo.”
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Se o filme conseguirá honrar o legado do romance enquanto se afirma como uma obra autoral é algo que só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: ao unir um clássico da literatura a um blog anônimo, Grande Sertão prova que as grandes histórias nunca deixam de ecoar — nem mesmo na era dos algoritmos.