A Bahia perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas e controversas: Dona Cabeluda, cafetina conhecida por sua influência no submundo do meretrício em Salvador, faleceu nesta semana aos 78 anos. Sua morte encerra um capítulo marcante da história marginal da capital baiana, onde ela reinou por décadas como uma das mais poderosas e temidas empresárias do sexo.
Uma Vida de Contradições
Nascida em um bairro pobre de Salvador, Dona Cabeluda – cujo nome real era Maria do Carmo Silva – começou sua trajetória ainda jovem, trabalhando como prostituta antes de ascender ao posto de dona de bordéis. Seu apelido veio de sua juba volumosa, que ela mantinha sempre bem cuidada, um símbolo de sua personalidade forte e imponente.
Ao longo dos anos, ela construiu uma reputação ambígua: para alguns, era uma exploradora, acusada de coagir mulheres vulneráveis. Para outros, era uma espécie de “madrinha”, oferecendo abrigo e proteção a profissionais do sexo em uma sociedade que as marginalizava. Seus bordéis eram frequentados por figuras de alto escalão – políticos, empresários e até artistas –, o que lhe garantia certa imunidade e poder.
O Mito e a Realidade
Dona Cabeluda virou lenda não apenas pelo seu império clandestino, mas também por sua personalidade carismática e sua habilidade em escapar da lei. Conta-se que ela tinha um “livro negro” com nomes de clientes influentes, usado como moeda de barganha em momentos de aperto. Apesar de inúmeras denúncias, nunca foi condenada criminalmente, um indício de sua astúcia e conexões.
Nos últimos anos, já afastada das atividades, ela vivia reclusa em uma casa no subúrbio de Salvador, cercada por histórias e mistérios. Sua figura inspirou livros, documentários e até sambas de roda, que retratavam sua vida entre a vilania e a proteção às “suas meninas”.
O Legado de uma Lenda Marginal
A morte de Dona Cabeluda reacende debates sobre a relação entre crime, poder e sobrevivência nas periferias brasileiras. Para estudiosos, ela representa a complexidade da marginalidade – uma mulher que, em outras circunstâncias, poderia ter sido uma grande empresária, mas que encontrou no submundo a única forma de ascensão disponível para alguém de sua origem.
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Seu enterro, discreto e cercado de poucos familiares, contrasta com a grandiosidade de sua história. Mas, nas ruas de Salvador, seu nome ainda ecoa como um símbolo de resistência, astúcia e, acima de tudo, sobrevivência em um mundo de homens.
“Ela era o diabo e o anjo da guarda ao mesmo tempo”, definiu uma ex-funcionária, resumindo o paradoxo que foi Dona Cabeluda. Agora, sua lenda pertence à história – e às sombras – da Bahia.